Portugal vai acolher entre os dias 14 e 19 de outubro o primeiro Campeonato do Mundo de Clubes de “Ultimate” (ou “Ultimate Frisbee”), modalidade desportiva surgida em 1970 que é jogada com o “Frisbee”, o popular “disco voador” que algumas pessoas costumam levar para os areais para fazer lançamentos.

O “Ultimate” combina valências de outros desportos coletivos e é praticado em relva, na praia ou indoor (recintos fechados). A competição mundial em Portugal será jogada na praia.
Depois de um primeiro Mundial de seleções na Figueira da Foz, em 2004, Portugal volta a receber, vinte anos depois, uma competição internacional desta disciplina.

O World Beach Ultimate Club Championships – WBUCC 2024 acontece em outubro, entre 14 e 19, na Praia da Rocha, Portimão, e reunirá dois mil jogadores.
A “crème de la crème” do Beach Ultimate virá, assim, ao Algarve, sendo esperadas 121 equipas de mais de 30 países, oriundas da Europa, Austrália, Ásia, Américas e África. A organização pertence à BULA (Beach Ultimate Lovers Association).
As principais potências mundiais desta disciplina desportiva são os EUA, Canadá, Grã-Bretanha, Alemanha e Japão, de acordo com o ranking 2024 da WFDF que coloca ainda no “top 20” França, Austrália, Colômbia, Itália, Singapura, Espanha, Filipinas, Suíça, Nova Zelândia, Bélgica, Áustria, Chéquia, Suécia, Irlanda e Dinamarca.
Equipas portuguesas em ação
Portugal, país anfitrião da competição, ocupa no ranking mundial de 2024 a posição 34º, e irá também lutar pelos títulos de campeão do mundo de Ultimate em clubes nas suas três divisões: mista, open (masculina) e feminina.
Na mista estarão 54 equipas, uma das quais portuguesa, a algarvia UFA, de Portimão.
A divisão open (masculina) será disputada por 41 equipas, duas das quais portuguesas: os Disc’Over, de Lisboa; e os Gambozinos, de Aveiro.

Na divisão feminina alinham 26 equipas, sendo uma delas portuguesa, a “Marias”, que assegurou a presença no Mundial de Clubes em novembro do ano passado, após triunfar em dois jogos nos campeonatos nacionais de praia.
As “Marias”
“Marias” é, de resto, o primeiro clube feminino português de Ultimate, tendo o projeto surgido quando quatro amigas e colegas de campo decidiram que queriam construir um local seguro para desenvolver a modalidade feminina em Portugal.

Vanessa Eterno e Manuela Fonseca fundaram as “Marias”, clube que, apesar de ter sido constituído oficialmente apenas em julho de 2023, é composto por algumas jogadoras com mais de 15 anos de prática da modalidade.
O plantel atual da equipa portuguesa tem 24 atletas do sexo feminino, com idades entre os 11 e os 51 anos, de diferentes zonas do país. Um dos locais habituais dos treinos é a praia de Carcavelos.

“Quando participei em torneios internacionais fui surpreendida pelo alto nível das atletas femininas de outros países, e foi impossível ficar indiferente. Acredito no potencial das nossas atletas, mas faltava-nos a estrutura para desenvolver competências e confiança. Foi quando decidimos avançar com o projeto ‘Marias’ e convidar a Mel [Melanie Chowgule] para nossa treinadora. Desde então começámos a trabalhar nas nossas bases, com foco e muito espírito de equipa”, refere Vanessa Eterno.
A treinadora Melanie Chowgule, dos EUA, que tem no currículo mais de 20 anos de experiência no “Ultimate Frisbee”, na Índia, será, de resto, quem terá a missão de definir a estratégia e de potenciar as capacidades das atletas portuguesas das “Marias” no Mundial de clubes.

“A participação no WBUCC foi um grande motor de crescimento para a equipa, sendo esta uma competição que reúne alguns dos melhores jogadores do mundo. A orientação e paciência da nossa treinadora Mel foi crucial na união e consolidação deste projeto. A jovem ‘Marias’ tem muito para crescer enquanto projeto e por isso todo o apoio da comunidade de Ultimate tem sido também muito positivo”, comenta Manuela Fonseca.
Uma das particularidades da equipa nacional feminina é o facto de ir estrear um equipamento que honrará o bordado português, com calções/saias a imitar os tradicionais aventais coloridos do norte do país.
Como se joga: regras essenciais
Cada equipa de “Ultimate” alinha de início com cinco jogadoras (na versão de praia), num campo com 100 metros de comprimento por 37 metros de largura (a versão de praia é um campo de 75 metros x 25 metros).
As substituições são ilimitadas, embora com momentos específicos para poderem ser feitas.
O objetivo é tentar que um jogador apanhe o disco, lançado por um companheiro de equipa, dentro da zona de marcação da equipa contrária (“endzone”), à semelhança de um ensaio no rugby. Sempre que isso acontece, a equipa soma um ponto.
O jogo termina quando a primeira equipa marca 13 pontos em praia, 15 em relva ou quando se esgotam os 45 minutos de jogo. O intervalo é quando uma das equipas marca nove pontos.
Princípios de fair-play e inclusão
Os praticantes declaram que esta modalidade se diferencia pelo “espírito do jogo”, princípios de fair-play que permitem que possa ser jogado sem um árbitro.
Manuela Fonseca acrescenta ainda o sentido de inclusão que se observa neste desporto, dando como exemplo a sua própria equipa: “É muitíssimo entusiasmante fazer parte da construção de algo maior que a nossa prestação individual neste desporto. Este projeto tem um olhar inclusivo no que diz respeito à capacidade atlética, disponibilidade, região e nacionalidade. Fazem parte da equipa atletas de vários locais de Portugal (Setúbal, Leiria, Porto e Lisboa) e com vários níveis de experiência”.

Manuela Fonseca entende, por isso, que as “Marias são para todas as que querem crescer nesta modalidade, havendo espaço para um grande nível de competição e empenho, como também para uma abordagem mais calma ao Ultimate. Espero ver as Marias crescerem em dimensão e qualidade nos próximos anos, que possam inspirar outras atletas a desenvolver o desporto no feminino”.
Expectativas para o Mundial de clubes 2024
Sobre o estado da modalidade por cá, Vanessa Eterno entende que Portugal já “tem destaque no mapa do Ultimate Frisbee de praia, mas por sermos uma modalidade ainda em crescimento, a prioridade da APUDD (Associação Portuguesa de Ultimate e Desportos de Disco) tem sido na divisão mista e na formação de professores e alunos do Programa Escolar. Coisas bonitas demoram tempo a ser contruídas, requerem sacrifícios e muita dedicação”.

Relativamente às expectativas para o Mundial, Vanessa Eterno salienta que o WBUCC “é a primeira grande competição das Marias. Queremos ser competitivas, identificar os pontos que necessitam de ser trabalhados. Acima de tudo que terminemos a competição de forma unida e ainda mais apaixonadas por este jogo!”
Mundial de seleções em 2025
Na senda do crescimento em Portugal desta modalidade originária dos EUA, a WFDF – World Flying Disc Federation, entidade internacional reconhecida pelo Comité Olímpico desde 2015 e da qual é membro desde 2013 a APUDD – Associação Portuguesa Ultimate e Desportos de Disco, anunciou, entretanto, no início de julho o calendário de eventos para 2025 que prevê uma nova prova em Portimão.
Trata-se do World Beach Ultimate Championships (WBUC), o Campeonato do Mundo de Seleções de Ultimate de Praia, previsto para a Praia da Rocha, no Algarve, de 2 a 8 de novembro de 2025.