Proptech portuguesa Relive quer liderar arrendamentos nos EUA. E recebe nova ronda de investimento

A Relive, empresa tecnológica de mediação imobiliária especializada em ferramentas de apoio a consultores imobiliários focados em arrendar, comprar e vender imóveis, acaba de anunciar uma nova ronda de investimento no valor de 5,3 milhões de euros. A ronda de investimento Series A foi liderada pela Indico Capital Partners, com a participação da Shilling e…
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Plataforma imobiliária portuguesa Relive angaria 5,3M€, investimento que lhe permitirá dar próximo e ambicioso passo: liderar arrendamentos nos EUA. Entrevista exclusiva com José Costa Rodrigues, CEO.
Imobiliário Negócios

A Relive, empresa tecnológica de mediação imobiliária especializada em ferramentas de apoio a consultores imobiliários focados em arrendar, comprar e vender imóveis, acaba de anunciar uma nova ronda de investimento no valor de 5,3 milhões de euros.

A ronda de investimento Series A foi liderada pela Indico Capital Partners, com a participação da Shilling e Bynd.

“A Relive sempre teve como missão criar a plataforma para a empresa de mediação imobiliária do futuro, capacitando uma nova geração de consultores – Millennials e Gen Z – com ferramentas digitais e uma presença diferenciada nas redes sociais de forma a impulsionar os seus negócios. Atualmente, a idade média de um consultor imobiliário nos EUA é de 50 anos. É uma geração diferente, com mais valias em experiência e rede de contactos física, mas muito distante da realidade e das necessidades de uma nova geração de clientes digitais, que têm entre os 20 e 40 anos”, refere José Costa Rodrigues, fundador e responsável da Relive.

Esta nova captação de investimento permitirá à Relive reforçar a sua equipa em Portugal e nos EUA “com contratações estratégicas”, expandir-se a partir do Texas, onde iniciou, para outros estados americanos incluindo a Flórida, Colorado e Geórgia, entre outros e acelerar o desenvolvimento da sua plataforma tecnológica e “criar uma eficaz pipeline de dezenas de milhares de clientes arrendatários, tornando-se na plataforma número um no mercado de arrendamento”.

Desde o lançamento nos EUA, a plataforma da startup já intermediou milhares de arrendamentos, apoiando mais de 100 consultores imobiliários em Austin, Dallas e Houston, que fazem parte, em exclusivo, da plataforma da empresa.

A visão da empresa para o futuro consiste em liderar o mercado de arrendamento dos EUA, tornando-se na plataforma tecnológica e comercial líder do seu segmento, no mercado mais competitivo do mundo. José Costa Rodrigues projeta que em três anos, a Relive virá a competir diretamente com gigantes do setor da compra e venda de imóveis, como a Compass, eXP e Real brokerage.

Stephan de Moraes, Presidente da Indico Capital Partners entende que “é essencial continuar a desenvolver esta plataforma colaborativa que facilita a procura de habitação usando as redes sociais, pelas gerações mais jovens. É com orgulho que apoiamos a Relive, num investimento crucial para uma expansão bem-sucedida, ajudando a impulsionar a inovação e a tecnologia num setor em constante evolução.”

José Carlos Rodrigues, CEO da Relive

 

Em declarações exclusivas à Forbes Portugal, José Costa Rodrigues, mentor e responsável pela Relive, faz uma retrospetiva do que tem sido a aventura americana e lança um olhar para os próximos tempos.

A Relive foi fundada no final de 2020. Mais de quatro anos depois qual a dimensão do projeto?
A Relive começou numa época muito particular: março de 2020, início da pandemia. Nessa altura, pensei que o mundo me estava a cair em cima, que só podia ter muito azar e ser maluco.

Precisamente nessa altura, a minha primeira empresa, Forall Phones, de tecnologia recondicionada, estava em grande crescimento, a faturar cerca de um milhão de euros por mês – e num processo de venda a um grande grupo português cotado em bolsa, que queria alavancar a nossa marca e comunidade jovem e sustentável e disponibilizar os produtos nas suas centenas de lojas pelo país. Seria um êxito super bem-sucedido e eu estava muito entusiasmado. A COVID colocou, de repente, tudo em standby, o que foi muito duro. Felizmente, no final desse mesmo ano, conseguimos ainda assim realizar a operação, mas com outro comprador. A empresa continua ativa e isso deixa-me muito feliz.

Ao mesmo tempo, e já a pensar no que se seguia a nível empresarial, decidi investir no ramo imobiliário, ao comprar um franchising da RE/MAX, pois senti que o mercado português estava em alto crescimento, com cada vez mais interesse pelo nosso país e pelas suas condições de vida incríveis. Para isso, tinha de aprender sobre mediação imobiliária, e entendi fazê-lo com a maior marca a atuar em Portugal.

“Compreendemos que o nosso elemento diferenciador seria criar uma marca jovem, com uma tecnologia particular”

Mais tarde, compreendemos que o nosso elemento diferenciador seria criar uma marca jovem, com uma tecnologia particular, em que o negócio do consultor passava em grande parte pelo telemóvel e por conteúdo nas redes sociais. Assim, decidimos vender o franchising e lançar uma marca própria, independente, de forma a sermos totais donos do nosso destino.

Em janeiro de 2021 lançamos a Relive de forma independente e, depois de um ano de sucesso a implementar o nosso modelo disruptivo, tivemos investidores, portugueses e americanos, a apostarem em nós para exportar a nossa visão para os Estados Unidos da América. Em janeiro de 2022 angariamos um milhão de euros, eu fiz as malas, comprei um voo apenas de ida e mudei-me para Austin, Texas. Do outro lado, à minha espera não tinha Visto, casa, família, amigos nem um negócio. Fomos totalmente à descoberta, mas acreditando que podíamos triunfar.

“Depois de um ano de sucesso a implementar o nosso modelo disruptivo em Portugal, tivemos investidores, portugueses e americanos, a apostarem em nós para exportar a nossa visão para os EUA”.

Começaram em Portugal e alargaram o projeto para os EUA, um mercado muito competitivo. A ida para os EUA aconteceu porque razão?
A maioria das pessoas chamaram-nos malucos – e eu compreendo perfeitamente. Se olharmos para o mercado imobiliário em Portugal, por que empresas é que este é vastamente dominado? RE/MAX, Century 21, ERA, Keller Williams… O que é que estas têm em comum? São todas marcas americanas, que foram importadas para Portugal ao “comprar-se” direitos de usar uma imagem, marca, tecnologia e processos operacionais. Como se fosse um McDonalds.

“A maioria das pessoas chamaram-nos malucos por irmos para os EUA”

Então nós pensamos a longo prazo. Se for para um dia competir com ‘esta malta’, nós temos de pensar maior, mais longe. Nós temos de ir à origem, temos de conseguir competir com eles no mercado mais competitivo do mundo e onde elas próprias começaram – Estados Unidos da América.

 

Nos EUA, o vosso foco principal é o mercado de arrendamento, ao contrário de em Portugal onde a preponderância vai para o setor de compra e venda. É assim?
Nos EUA, obviamente não conseguimos desde o dia 1 competir diretamente com estes tubarões, no que é o seu principal foco – a compra e venda de imóveis. Mas existia uma oportunidade gigante por explorar – o mercado de arrendamentos. Tradicionalmente, os consultores imobiliários destas grandes marcas tendem a não se especializar em arrendamentos, pois são transações mais pequenas e com menor comissão associada. No entanto, a tendência que nos víamos era clara:

– O nosso target, os Gen Z e Millennials, estavam cada vez menos a comprar casa, e cada vez mais a arrendar, por um conjunto de circunstâncias;

– O americano é muito móvel, pode viver 2 ou 3 anos num estado, e depois tem uma oportunidade de trabalho e muda para outro. Portanto, quer flexibilidade e menos raízes;

– Os preços das casas nos EUA estão em picos históricos e tornaram-se inacessíveis à maioria das pessoas, a par de taxas de juro no crédito à habitação a 6 e 7%.

– Grandes fundos de investimento estão cada vez mais a construir o chamado “build to rent” – que são comunidades com centenas de apartamentos num só sítio, especificamente para arrendar, com muitos serviços comuns como ginásio, piscinas, campos de ténis, etc.

“Nos EUA, existia uma oportunidade gigante por explorar – o mercado de arrendamentos”

No ano passado faturaram 4 milhões de dólares. Enquanto plataforma imobiliária vocacionada para o mercado português e norte-americano, qual destes dois mercados tem um peso maior no vosso volume de negócio?
Os Estados Unidos já representam uma enorme fatia no negócio, pois nos últimos três anos tivemos de “provar” que conseguimos triunfar do lado de lá do oceano, na América, para gerarmos liquidez e progressivamente podermos também investir e competir no nosso país de origem, Portugal. Mas é sabido por todos que o grande foco são os EUA, onde existe a maior oportunidade e escala.

Começamos pelo mercado de arrendamentos, mas acreditamos que nos próximos 3 a 5 anos estaremos também na compra e venda, e a competir diretamente com os principais players americanos, como a Compass, eXp, Real Brokerage (e os franchisings tradicionais que já mencionados em cima).

“Começamos pelo mercado de arrendamentos, mas acreditamos que nos próximos 3 a 5 anos estaremos também na compra e venda”

José Costa Rodrigues recebe aqui o Business Leadership Award no PALCUS (Portuguese American Leadership Council of the United States)

 

A equipa da Relive é composta por quantos elementos e desses quantos estão nos EUA?
Nas startups há muita tendência em falar de quantidade em vez de qualidade. Empreendedores fecham uma ronda de investimento e imediatamente dizem que vão contratar 50 pessoas. A minha opinião é que na maioria dos casos, nem sabem bem a razão disso, e depois têm recursos humanos a mais, trabalho a menos e uma dispersão total. Não compreendo – deviam era falar de objetivos de crescimento, faturação, rentabilidade, porque isso é que paga os salários, e porque contratar é apenas uma consequência de executar.

A Relive, em 2024, cresceu 140% face a 2023, faturou $4 milhões de dólares com apenas sete colaboradores a tempo inteiro, divididos entre os dois países, a servir cerca de 100 consultores imobiliários. Foi isso que nos permitiu ter rentabilidade positiva, ou seja, provar que tínhamos um negócio per si sustentável, com um playbook viável e pronto a expandir de forma acelerada. Para mim, como CEO, isto é central. Eu digo sempre que “crescer rápido a queimar dinheiro é fácil, difícil é crescer rápido e gerar rentabilidade ou pelo menos obter breakeven”.

“Crescer rápido a queimar dinheiro é fácil; difícil é crescer rápido e gerar rentabilidade ou pelo menos obter breakeven”

A vossa primeira ronda de investimento foi de 1,2 milhões de dólares, no início de 2022.
Sim, foi essa ronda de investimento que nos permitiu dar o salto para os EUA, montar uma equipa americana, desenvolver e adaptar a tecnologia ao mercado local, e conquistar o nosso espaço no mercado de arrendamento de imóveis. Sou muito grato aos nossos investidores e angel investors portugueses, assim como a americana Techstars, por terem confiado em nós nessa fase em que não existia nada na América.

Foto de 2022 quando a Relive recebeu um investimento da Techstars

 

“Sou muito grato aos nossos investidores e angel investors por terem confiado em nós”

Esta semana, conseguiram a vossa segunda ronda de investimento, no valor de 5,5 milhões de dólares (5,3 milhões de euros). Quem liderou esta angariação de capital?
Quem liderou a ronda foi a Indico Capital, com a participação da Shilling e da Bynd. Os três já eram nossos investidores desde o início, pelo que tudo foi desbloqueado de forma mais fácil. Nos últimos 3três anos, todos os meses eu partilhei, religiosamente, um report com toda a informação e performance do negócio. A comunicação regular e transparente, a par dos bons resultados falavam por si, pelo que o interesse em continuar a apostar em nós tornou-se lógico. Estamos muito gratos aos nossos investidores.

Este último investimento o que é que vos vai permitir? Vai destinar-se a quê?
Este investimento vai permitir fazer contratações estratégias em Portugal e nos EUA, remunerar melhor os colaboradores que já estão connosco e confiaram desde o início, desenvolver a nossa plataforma tecnológica e ferramentas digitais para os nossos consultores imobiliários, e abrir uma série de novas cidades e estados, como Flórida, Colorado, Georgia, Tennessee, Illinois, entre outros.

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