Ricardo Costa, o líder que acredita que a felicidade no trabalho é lucrativa

Ricardo Costa, 45 anos, CEO do Grupo Bernardo da Costa, um dos líderes nacionais mais reconhecidos no tema das boas práticas no trabalho, acaba de apresentar o seu mais recente livro “A Felicidade é Lucrativa”. Nesta obra, defende que pessoas felizes, ambientes saudáveis e liderança humanizadas originam empresas mais produtivas e lucrativas. “Eu acredito firmemente…
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Pessoas felizes, ambientes saudáveis e liderança humanizadas originam empresas mais produtivas e lucrativas. É isto que resume o mais recente livro de Ricardo Costa. Conheça aqui o perfil do líder.
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Ricardo Costa, 45 anos, CEO do Grupo Bernardo da Costa, um dos líderes nacionais mais reconhecidos no tema das boas práticas no trabalho, acaba de apresentar o seu mais recente livro “A Felicidade é Lucrativa”. Nesta obra, defende que pessoas felizes, ambientes saudáveis e liderança humanizadas originam empresas mais produtivas e lucrativas.

“Eu acredito firmemente que pessoas felizes tornam as empresas mais produtivas. Quando os colaboradores se sentem valorizados e trabalham em ambientes saudáveis, liderados de forma humanizada, o resultado é um aumento significativo na produtividade”, explica em entrevista à Forbes Portugal. As empresas que promovem o bem-estar dos seus colaboradores observam melhorias significativas em várias áreas, tais como a produtividade (já que colaboradores felizes são até 12% mais produtivos), o lucro (um aumento na dedicação dos colaboradores pode levar a uma melhoria de até 21% na lucratividade) e finalmente na atração de talentos, já que ambientes de trabalho positivos reduzem a rotatividade de colaboradores, economizando custos de recrutamento e formação.

Questionado sobre como sustenta a ideia de que felicidade é lucrativa, explica: “acredito nisso porque precisamos de transcender o paradigma atual e encontrar algo melhor. As pessoas precisam que o trabalho tenha um significado, que não seja apenas um meio, mas que esteja relacionado com a realização real, um verdadeiro fim em si mesmo. Tal só será possível se reduzirmos o dinheiro ao que realmente significa: o salário é um meio, uma ferramenta ao serviço de um fim superior, e uma medida de eficácia e eficiência económica”.

Para Ricardo Costa a felicidade no trabalho é o bem final, pois não existe um equivalente monetário à vida, nem deveria existir. “O que precisamos é de um novo paradigma de trabalho baseado na própria felicidade. Para tal, precisamos de examinar como podemos integrar a felicidade como objetivo final e reformular o conceito de trabalho”, remata.

Acredita que as novas gerações procuram muito mais do que apenas um salário: querem um propósito no seu trabalho, um equilíbrio entre vida pessoal e profissional, e um ambiente onde se sintam compreendidas e valorizadas. “É nossa responsabilidade, como líderes, entender estas necessidades e integrar estas novas pessoas nas nossas empresas de maneira eficaz e empática”, afirma.

Empatia é, para Ricardo Costa, um pilar fundamental da liderança responsável. E assume que, quando lidamos com as novas gerações, a empatia permite-nos compreender melhor as suas expectativas e aspirações na vida pessoal e profissional, criando um ambiente onde todos se sentem ouvidos e valorizados. “Uma liderança empática promove um clima de confiança e respeito, que se traduz numa maior lealdade e compromisso dos colaboradores”, explica.

Conheça a seguir quem é o empreendedor de Braga que aplica as melhores práticas de trabalho na sua empresa.

O “louco” que criou o Departamento da Felicidade

Ricardo Costa, líder do Grupo Bernardo da Costa, que tem raízes na empresa fundada pelo seu avô em Braga, em 1957, sempre gostou de inovar e de fazer as coisas sem seguir standards. Talvez por isso não tenha achado estranho quando lhe chamaram louco e pouco profissional por estar a criar, em 2017, o primeiro departamento de felicidade dentro de uma empresa portuguesa. Não deu ouvidos aos comentários e hoje tem a certeza de que a aposta foi certeira. Amante de viagens – quer visitar 100 países até aos 50 anos e já só lhe faltam 17 –aproveita as deslocações fora de fronteiras, muitas delas em contexto profissional, para beber ensinamentos de outras culturas. Foi o caso da ideia de criar o Departamento da Felicidade na Bernardo da Costa, uma vez que se inspirou no Ministério da Felicidade de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. “Isto não é mérito meu: vem de uma cultura organizacional que o meu avô começou, o meu pai e o meu tio deram continuidade ao longo dos 30 anos em que lideraram a empresa. É uma cultura organizacional assente no bem-estar, na saúde, na segurança e no tão falado equilíbrio entre vida profissional, pessoal e familiar”, explica.

“Um líder não pode ter medo de errar, um colaborar não pode ter medo de errar, e isso só é possível se o líder criar um ambiente propício, se não houver represálias, se não houver criminalização. Errar e inovar estão umbilicalmente ligados”, diz Ricardo Costa.

Atualmente o grupo que lidera desde 2011, quando o seu pai e o seu tio lhe passaram o testemunho, é composto por 10 empresas, faturou qualquer coisa como 73 milhões de euros em 2023 e tem cerca de 300 colaboradores. O seu core business centra-se sobretudo na área da segurança eletrónica, que inclui videovigilância, deteção de incêndios, alarmes e controlo de acesso, mas tem empresas de outras áreas de atividade. Ricardo Costa foi, há uns anos, distinguido como um dos melhores gestores com menos de 40 anos e é atualmente o profissional mais seguido do Linkedin, segundo a lista elaborada pelo especialista Pedro Caramez. Começou a utilizar mais ativamente esta rede social no início da pandemia, para fazer chegar a sua mensagem a mais pessoas e acredita que mudou a sua vida. Tem até uma rubrica, em que recebe pessoas para almoçar no meu escritório, que se chama Inspiração à Mesa, e que resulta de muitos contactos feitos através do Linkedin.

O grupo que lidera desde 2011, quando o seu pai e o seu tio lhe passaram o testemunho, é composto por 10 empresas, faturou qualquer coisa como 73 milhões de euros em 2023 e tem cerca de 300 colaboradores.

Construiu uma carreira a pulso, engrandecendo o grupo familiar e hoje acredita na importância de divulgar as boas práticas do mundo do trabalho. Foi a pensar nisso que incentivou a criação da Academia da Felicidade, projeto que tem a missão de mudar o mundo pela formação em liderança empática. “Hoje movo-me por propósito e impacto. O impacto que consigo ter em mim mesmo e em quem me rodeia, e depois pela sociedade. Acredito muito no giving back, ou seja, devolvermos à sociedade aquilo que a sociedade nos ajuda a conquistar enquanto empresa”.

O seu crescimento pessoal

Passou a sua infância entre Braga, onde vivia, e Viana do Castelo, onde fazia campismo regularmente, uma atividade que assume tê-lo marcado pela positiva. Em criança, na empresa do avô, na altura apenas com o core business inicial de instalações elétricas de apoio à construção civil, reparava séries de iluminação de Natal, fazia carros de rolamentos (a empresa também tinha uma área de bobinagem de motores) e inovava dentro do que lhe era possível para a sua tenra idade. Porém, apesar dos seus testes psicotécnicos o encaminharem para medicina, área que até gostava bastante – recorda-se até de se mascarar no Carnaval de médico e de enfermeiro – acabou por seguir outro caminho. Frequentou a Universidade Lusíada, em Vila Nova de Famalicão, e terminou a licenciatura de Engenharia e Gestão Industrial, uma área que o fascinou e entende agora que foi a melhor decisão.

A vida académica foi um marco importante

Porém, líder nato como é, não se ficou apenas pelos estudos: dedicou-se também à Associação Académica, na qual foi presidente durante três anos. “A Associação Académica foi tão importante como o curso em si, pois foi ali que comecei a desenvolver as minhas capacidades de liderança. Uma liderança diferente, porque, como eramos todos voluntários, tinha de desenvolver as minhas capacidades de persuasão para convencer os meus colegas a trabalhar sem nada em troca ou só por uns copos”, graceja, a propósito. Sendo atualmente presidente da direção da Associação Empresarial do Minho, refere que esta passagem foi uma experiência importante já que “o associativismo tem este lado de ser necessário fazer com que as pessoas deem algo de si, sem esperar nada em troca”. Além, disso, toda a parte da organização de eventos, como a Queima das Fitas, ou a receção ao caloiro, a gestão do bar, tudo isso lhe permitia colocar em prática conceitos que ia aprendendo durante o curso. “Herdei uma associação complicada e o meu primeiro ano como presidente foi passado a resolver problemas e isso deu-me uma experiência brutal a lidar com empresas e contratos”, explica. No fundo era um miúdo de 19 anos a tentar sobreviver no mundo dos crescidos, mas admite que teve muita ajuda do já falecido Professor José Cruz, presidente da Lusíada e depois presidente da fundação Minerva, uma das suas grandes referências, e também do Professor António Martins da Cruz.

Mas nem tudo foram rosas: foi um início difícil, confessa. Chegou a uma empresa com 45 anos de atividade com a garra de um jovem licenciado – o primeiro da família – a pensar que mudava um mundo em dois dias e, por isso, as barreiras foram surgindo. Ao fim de três meses percebeu que tinha primeiro de entender o que as pessoas faziam e foi para o terreno acompanhar os eletricistas e perceber as dores do negócio. Cedo percebeu que queria ser respeitado como profissional e não como filho do patrão.

Inverteu o caminho pois apercebeu-se de que estava errado, o que acaba por dar força a uma das ideias que mais preconiza: o erro faz parte do processo. “Estamos numa sociedade que ostraciza o erro. Não há mais empreendedorismo, não há mais inovação, pelo medo de errar. Eu incentivo as pessoas a errar. Um líder não pode ter medo de errar, um colaborar não pode ter medo de errar,e isso só é possível se o líder criar um ambiente propício e se não houver represálias”, explica o CEO. E acrescenta: “Errar e inovar estão umbilicalmente ligados, só se inova quando se erra, o erro estimula a criatividade e mesmo que pareça um contratempo, a longo prazo conduz-nos a melhores resultados”.

O espinhoso início de carreira

Entre 2002 e 2004, Ricardo Costa trabalhou na empresa de instalações elétricas a fazer um pouco de tudo, desde a parte comercial, passando pela área técnica e pela logística. É precisamente em 2004 que se dá um ponto de viragem: foi numa feira de segurança em Madrid que foi desafiado a criar uma empresa que fosse representante, em Portugal, de uma marca espanhola de segurança eletrónica. “Antes só existia uma empresa, a que o meu avô fundou, e a partir daqui surge uma nova área, a Bernardo da Costa, Comércio de Equipamentos de Segurança. Este foi um momento marcante da nossa história nos últimos 20 anos”, explica o responsável.

Começou por ter apenas 18% de quota nesta sociedade e ao longo do tempo foi adquirindo mais participações. Hoje a área da segurança eletrónica, a IBD, representa 70% do volume de negócio do grupo, fruto de alguma aquisições e fusões. “Esta empresa marcou uma diversificação das áreas de negócio muito importante na crise da construção porque nos permitiu sobreviver. Nesta fase perdemos 95% dos nossos clientes que entraram em processos de insolvência, mas felizmente as outras áreas de atividade estava bem”, explica.

“O Governo é reflexo da sociedade. Quando formos melhor como sociedade, vamos ter melhores governos”, afirma Ricardo Costa.

Foi também esta primeira experiência que lhe abriu as portas para o mercado externo, num país onde acabou por entrar diretamente mais tarde. Porém, o primeiro passo na internacionalização do Grupo Bernardo da Costa deu-se em 2009, com a criação de uma sociedade em Moçambique, que se manteve até 2013. O grupo constituído por 10 empresas, tem três delas fora de Portugal: Espanha, Brasil e Camarões. Mas os objetivos futuros passam por abrir mais unidades fora de fronteiras: “Temos, na IBD, um plano de abrir filiais pelo menos em três países nos próximos cinco anos. A primeira será Itália, já este ano, depois será a França e o Benelux (que abrange três países, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo)”, revela. Diz, contudo, que isto é o que está nos planos de expansão, mas se surgir mais alguma oportunidade será considerada. Ricardo Costa relembra, por exemplo, que não estava nos seus objetivos investir na plataforma KuantoCusta e nas lojas Doutor Finanças, em exclusivo para a região do Minho, e hoje são mais duas áreas de atividade do grupo. 

Educação e formação, as suas duas paixões

Ricardo Costa criou, em 2011, a Academia Bernardo da Costa, um empreendimento na área da formação e consultoria. “Isto foi um projeto pessoal, porque acho que se algum legado pudermos deixar no mundo é a educação, a capacitação e qualificação de pessoas. Apenas com 12 anos, a academia já tem milhares de certificados passados”, explica. Nasceu sobretudo para dar formação nas áreas de atividade do grupo, como a eficiência energética, a segurança eletrónica, a segurança contra incêndios, mas hoje já tem mais de 27 áreas certificadas pela DGERT destinadas a adultos e jovens desempregados. Foi dentro desta área de negócio que surgiu mais um importante nicho: a Academia da Felicidade, cujo objetivo é democratizar o acesso à felicidade organizacional.

Conforme explicado em cima, o empresário constituiu o primeiro Departamento da Felicidade, projeto que foi evoluindo ao longo dos anos. “Inicialmente estava muito centrado no programa de benefícios, porque achávamos que estes iam agradar às pessoas todas – a primeira viagem que oferecemos a Punta Cana, pensamos que toda a gente ia dar saltos de felicidade, mas percebemos que parte significativa encarava aquilo como um constrangimento e não como um prémio”, refere o líder. Depressa percebeu que “a forma como estou feliz não é igual para todos. Por isso, o que o departamento faz é ouvir. Por vezes falar resolve 50% dos problemas, e os outros 50% são decisões a empresa tem de tomar para ir de encontro às expectativas e necessidades dos colaboradores”, explica Ricardo Costa.

“Ouvir as pessoas, ouvir ativamente. É uma das maiores lições. Não se trata apenas de escutar e partilhar o que temos, mas crescer e absorver o desenvolvimento do outro”, diz Ricardo Costa.

O foco passou a ser mais a pessoa em particular, ou seja, como a pandemia, a inflação, as taxas de juro, a guerra, por exemplo, estão a impactar cada um, como estão a sofrer com a sua vida pessoal. “Passamos mais de 50% do tempo em que estamos acordamos em contexto de trabalho. Ou seja, boa parte deste tempo é passado em contexto de infelicidade, tóxicidade, e a vida como vida deixa de fazer sentido, por isso acredito que é mesmo possível ter felicidade no trabalho”, diz. Tem a consciência de que a Bernardo da Costa não é uma empresa perfeita, que também tem as suas questões para resolver, e que a felicidade nas empresas não se consegue com um estalar de dedos. Até porque, como explica, a felicidade começa dentro de nós e as empresas não podem ser as únicas responsáveis por ela, mas podem ajudar a manter o bem-estar dos seus colaboradores, num ambiente em que se sintam livres e seguros, e em que possam partilhar sem receios. Nisto, as lideranças têm um papel fundamental.

Liderar pessoas e não processos

“Acredito que as lideranças, sobretudo as intermédias, chegaram a esse posto pelas suas competências técnicas, e esquecemo-nos que lideram pessoas acima de tudo e não processos. Saber liderar pessoas é algo do qual temos um défice muito grande a nível global e que é preciso corrigir isto através de uma liderança empática. Com a Inteligência Artificial está em curso uma revolução industrial tão importante como a invenção da roda. E o mundo do trabalho, tal como o conhecemos, vai acabar e é preciso que as lideranças tenham as capacitações necessárias para liderar”, refere o responsável. Para ele, a Academia da Felicidade pretende levar este conceito a todas as empresas: a liderança de impacto, a liderança humanizada, o foco nas pessoas. Esta academia, que vai ter embaixadores e cônsules da Felicidade, já foi inaugurada e tem como missão disseminar estes conceitos entre o meio empresarial através da formação e da qualificação. “Uma das principais características de um líder é a empatia, esta é a palavra-chave na liderança. Normalmente não compreendemos o dano ou impacto que causamos em alguém, até que passemos por essa mesma experiência”, remata.

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