A Sotheby’s International Realty chegou a Portugal em 2007 e tem se destacado no chamado segmento de luxo. Em entrevista, o CEO da Portugal International Sotheby’s Realty, Miguel Poisson, detalha como a consultora imobiliária vai continuar a crescer e a aposta no reforço da equipa em 40%, sobretudo, nas cinco zonas chave que estão a atrair novos investidores: Lisboa/Cascais, Porto, Algarve, Madeira e Melides/Comporta.
Entretanto a Sotheby’s International Realty divulgou o relatório ‘2025 Luxury Outlook’, que avalia as tendências e os desenvolvimentos que vão ditar o panorama global do mercado imobiliário de luxo ao longo do ano. O relatório destaca fatores significativos, incluindo o impacto que uma transferência intergeracional de riqueza no valor de 84 mi milhões de dólares (cerca de 80 mil milhões de euros) poderá ter no mercado imobiliário, a previsão da relocalização de 135 mil indivíduos com um património líquido elevado (HNWIs) – onde Portugal recebeu 800 novos indivíduos, destacando-se como um destino atraente para migração de riqueza global – e o impacto que as classificações das “Melhores Cidades para Viver” têm nos valores das propriedades e na oferta de imóveis disponíveis numa cidade.
Como avalia o ano de 2024 para a atividade da Portugal International Sotheby’s Realty?
Em 2024 tivemos um ano muito forte. Foi o segundo melhor ano da empresa desde que estamos em Portugal, desde 2007, quando a Sotheby’s International Realty iniciou a atividade no País. Tivemos um crescimento de 20% nas vendas, com uma transação média ligeiramente superior a um milhão de euros, o que é muito elevado para Portugal, tendo em conta que a transação média em Portugal anda na casa dos 200 mil euros no segmento mass market. Nós tivemos a particularidade de ter um crescimento muito grande na área dos empreendimentos, ou seja, de construção nova, onde tivemos uma área que tem crescido muito conosco nos últimos anos e que teve um crescimento de mais de 200% em 2024 face a 2023. Isto tem muito a ver com um aumento que temos sentido de muitos investidores que, tendo em conta a escassez da oferta no mercado, que é um problema crónico de Portugal dos últimos anos, estão a antecipar e a acreditar que o aumento dos preços continua a ser uma realidade em 2025 e 2026, porque é muito difícil repor a oferta ao nível desejado, uma vez que o imobiliário é uma área de ciclo longo não é fácil quando existe um desequilíbrio entre a oferta e a procura, fazer aumentar a oferta.
E como se distribui essa procura em termos de nacionalidades?
Metade das vendas foram para portugueses e a outra metade para estrangeiros, sendo que, dentro destes a nacionalidade que tem continuado a ser aqui a estrela são os americanos, que tem vindo a crescer em todas as zonas do país. Os ingleses são a segunda nacionalidade, continuam também a investir muito e a ser no segmento de luxo, uma nacionalidade muito importante, mas muito concentrada ainda no Algarve. Depois há mais três nacionalidades que se destacaram: os franceses, os alemães e os brasileiros. São estas as cinco nacionalidades mais importantes, para além dos portugueses.
Face a este crescimento, houve que reforçar a estrutura?
Tomamos a decisão muito recentemente de expandir em 40% os recursos humanos da nossa empresa, já a começar em 2025, enfim, no período 2025 e 2026. Porque sentimos que há uma procura muito grande, que esta área do luxo vai crescer, e também por via de algumas novas tendências que vamos sentir no mercado. Por exemplo, a questão das branded residencies, que são grandes empreendimentos associados a nomes, como a Dolce & Gabbana, como a Armani, como às vezes a Aston Martin, os Porsche, etc. Esses grandes nomes que são associados a empreendimentos e já vimos muitas dessas tendências já mais desenvolvidas nos Estados Unidos, nomeadamente em Nova Iorque e Miami, ou por exemplo, como é no Dubai, onde temos uma presença também forte, nota-se muito que há esse tipo de empreendimento, de projetos que transmitem uma credibilidade e uma qualidade aos potenciais compradores muito elevada e, portanto, é uma área certamente que irá ser desenvolvida nos próximos tempos em Portugal. Esta é uma das tendências de futuro no imobiliário de luxo.
Mas ainda há desafios no mercado…
Sim, fruto do que está a acontecer em Portugal, que está a levar ao aumento de preços, como a falta de produtos, a lentidão dos licenciamentos e a lentidão no arranque dos projetos que possam vir a recolocar a oferta nos níveis desejados, e as perspectivas de mudanças fiscais, que em vez de ajudar, vieram a comprometer ainda mais a situação. Estamos a sentir, do ponto de vista do imobiliário e da procura, que a marca Portugal e tudo aquilo que está associado, a notoriedade que tem no estrangeiro hoje, que é a mais elevada de sempre. Trabalho neste setor há quase 20 anos e nunca vi uma procura e um posicionamento de Portugal tão bom em comparação com outros países, sobretudo os europeus. Portugal tem aqui algumas questões que são muito importantes na tomada dessa decisão, eu diria que duas delas têm vindo a ganhar importância, para além daquilo que é muito conhecido, como o clima ou a gastronomia. Uma é a segurança. É um país seguro para viver para um americano, um alemão, um francês, ou um inglês poder vir e instalar-se com a sua família. E um segundo fator muito importante e menos falado é a capacidade do país de integrar e de receber as pessoas. Há movimentos inclusivamente da América Latina que procuram, muitas vezes Espanha, e agora vemos também algumas dessas pessoas, que vêm para Portugal e que falam muito da capacidade dos portugueses de integrarem e de fazerem os estrangeiros sentirem-se bem, sentirem-se bem recebidos. E obviamente depois há todas aquelas questões que são muito importantes para quem se muda para Portugal com a família, nomeadamente a qualidade das escolas, dos hospitais. A qualidade de todos os desportos, o golfe, o surf, enfim, um conjunto de atividades que são também muito procuradas e tem-se sentido muito isso.
O aumento dos recursos em 40%, traduz-se em quantas pessoas?
Queremos aumentar a nossa equipa, nos próximos dois anos, de 250 pessoas para 350 pessoas em Portugal. Neste momento, temos escritórios de operações em Lisboa, incluindo toda a linha de Cascais, portanto, o primeiro polo é Lisboa. Depois temos o Porto, que também é muito importante, que é uma cidade que tem crescido muito ao longo dos últimos anos e muito procurado, inclusive agora por americanos que descobriram o Porto e tem havido uma procura também muito grande. Depois o Algarve, historicamente muito procurado pelos ingleses, agora também por americanos, mas também por outras nacionalidades. Depois a quarta área onde vamos também fazer crescer a equipa é na Madeira, onde temos uma operação também que tem vindo a crescer e que tem um futuro muito risonho pela frente, portanto, vamos fazer crescer a operação.
Mas há outras localizações a crescer…
Há uma nova área que se tem desenvolvido muito, que é mais recente, que é a linha entre Melides, com a Comporta, Troia, que tem muitos projetos que irão nascer de segmento alto e onde estamos já presentes também. Não estamos presentes fisicamente com uma operação, mas estamos já a trabalhar essa zona com afinco, com objetivos de expansão e, portanto, estamos a olhar estas cinco zonas, que são muito importantes e, portanto, vamos apostar aí muito no crescimento da nossa equipa. Estamos em processo de recrutamento intensivo nessa zona para podermos corresponder à procura que temos, até porque temos uma procura vinda das nossas filiais a nível internacional. Estamos presentes em mais de 80 países em todo o mundo, portanto, sendo a Sotheby’s a empresa de mediação de luxo mais importante do mundo, acabamos por beneficiar um bocadinho deste aporte dos nossos colegas espalhados pelo mundo, são mais de 26 mil pessoas que estamos todos os dias no terreno e Portugal, como tem esta notoriedade, acaba por se refletir num encaminhamento de muitos contatos de clientes, de compradores, de investidores que querem investir em Portugal.
E esse encaminhamento ajuda a crescer…
A razão pela qual se tem aumentado muito o crescimento nos empreendimentos tem também a ver com isso, nós crescemos mais de 200% o ano passado na área dos empreendimentos, exclusivamente, que é uma área onde temos investido muito e, portanto, e vamos continuar a crescer a ritmos muito elevados porque temos feito uma aposta também grande nesta área. A área de empreendimentos, ou seja, de construção nova, de venda de imóveis de construção nova, é muito importante. Inclusivamente, há muitos investidores portugueses que compram cada vez mais em planta, em que, os T0 e os T2 são as unidades mais procuradas. Do ponto de vista de investimento e, numa perspetiva em que os preços vão continuar a subir pela falta de oferta em Portugal e por uma maior facilidade de acesso ao crédito, porque as taxas de juros continuam a baixar, muitos investidores estão a transferir os seus investimentos financeiros. As taxas de depósitos a prazo são cada vez menos interessantes e está-se a sentir uma transferência grande de investimento de produtos financeiros para o imobiliário, onde as rentabilidades são muitíssimas elevadas. Vemos que muitos destes investidores compram em planta para poder depois, mediante uma fase de construção um bocadinho mais avançada do empreendimento, poderem revender com mais-valias interessantes.
Nesta ótica, como perspetiva 2025?
As perspectivas para 2025 é de uma oferta que continua escassa, uma procura forte, ainda por cima um acesso ao crédito melhor, porque as taxas de juros vão baixar e isto está a fazer com que seja muito expectável que os preços continuem a subir, fruto desta escassez da oferta. O desemprego em Portugal também está relativamente baixo, na casa dos 6%, a poupança das famílias nos 6% também em 2024. Portugal é um país, quer queiramos, quer não que cresceu em 2024 acima da média da União Europeia, continuará a crescer em 2025 acima da União Europeia, com uma procura forte e, portanto, digo que, do ponto de vista macroeconómico, apesar de termos muitos problemas para resolver em Portugal, sobretudo, a nível das constantes mudanças fiscais, destes licenciamentos lentos, que depois acabam por originar uma falta de oferta muito grande no mercado, mas, obviamente, mantendo esta escassez, é mais do que provável que os preços vão continuar a subir enquanto não conseguimos corrigir esta questão do lado da oferta…
Há que desburocratizar…
Diria que o grande mote para Portugal para o futuro é mesmo desburocratizar, esta é a palavra que eu acho mais importante no imobiliário e muitas outras áreas, é um tema que tem vindo a ser falado a nível da União Europeia cada vez mais e, portanto, é muito importante comparar, mas nós temos processos muito complexos a nível de autorizações em várias indústrias em Portugal, incluindo a indústria imobiliária, onde tudo parece muito mais complicado que em muitos outros países. Portanto, desburocratizar é mesmo a palavra de ordem e é bom que toda a gente tenha a noção disto para podermos em conjunto contribuir para o maior crescimento económico do país.
Mas quais os indicadores para 2025?
Antecipamos que, 2025 será certamente um ano muito forte para nós. Temos o objetivo de crescimento a dois dígitos face a 2024, ou seja, posicionamos com a ambição de fazermos o melhor ano de sempre da marca em Portugal, não só incluindo a área dos empreendimentos, onde temos vindo a crescer muito, mas também na área daquilo que chamamos o segmento avulso, de grandes moradias, enfim, penthouse e de muitos apartamentos em moradias nas principais cidades do país. A nossa previsão é muito boa, é muito ambiciosa para 2025, o acesso ao crédito continuará a ser bom porque as taxas vão continuar a baixar. Antevemos um crescimento na casa dos 15% para o segmento avulso e na casa dos 40% nos empreendimentos, ou seja, construção nova.
Divulgaram o vosso relatório Luxury Outlook 2025 sobre as tendências no setor do imobiliário de luxo. Quais as tendências que identificaram e que vão ter impacto em Portugal?
Há desde logo, a nível do segmento imobiliário de luxo, um ponto muito importante que tem a ver com a previsão de relocalização de 135 mil indivíduos, que nós chamamos os HNWIs (High Net Worth Individuals), ou seja, são pessoas com património líquido elevado. Portugal recebeu 800 dessas pessoas com poder de compra muito elevado e que procuram um determinado estilo de vida. Portugal, e eu diria, a nível mundial, o imobiliário está em plena transformação no sentido em que existe essa transferência, isto está perspetivado no relatório. Há uma transferência intergeracional, que é de mais de 84 bilhões de dólares, ou seja, uma transferência daquelas gerações que vão dirigir a sua riqueza para os filhos e netos, isto vai fazer com que as novas gerações e os millennials, caracterizados por um estilo de vida ou a procura de um estilo de vida muito diferente da geração dos seus pais e dos seus avós, que valoriza muito a qualidade de vida, valoriza muito o tempo, valoriza muito o acesso a serviços que lhes sejam muito práticos na vida, enfim, todo um conjunto de fatores muito ligados à qualidade de vida. Havendo uma grande transferência de riqueza para estas pessoas que queiram aplicar essa riqueza em ativos imobiliários, é muito importante que esses ativos correspondam a essas expectativas e a essa vontade e ambição de vida. Neste momento, o próprio setor imobiliário está em plena transformação. Nota-se, por exemplo, uma tendência muito grande e uma valorização muito grande, do que chamamos de branded residences no segmento luxo, ou seja, são empreendimentos ligados a grandes marcas como a Aston Martin, como a Armani, como o Bulgari, Porsche, Six Senses, que acabam por ser uma garantia de qualidade na construção, mas também de qualidade de segurança na construção. Estas branded residences com muitas amenities, que procuram proporcionar muito lazer também aos seus proprietários, esta tendência é muito clara no setor imobiliário. Estamos a comercializar, por exemplo, em Nova Iorque, Dubai, ou Miami, por exemplo, para falar de três cidades onde as branded residences têm um peso muito importante.