“Tenho uma linha de mobiliário que gostaria de internacionalizar”

Cristina Jorge de Carvalho é um dos nomes de referência na área do design de interiores em Portugal. A designer assina projetos relevantes, desde casa particulares, hotéis, apartamentos modelo, escritórios, um pouco por todo o mundo. Falamos, por exemplo, de projetos concebidos para moradias privadas na Quinta da Marinha e na Quinta Patiño, apartamentos no…
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Cristina Jorge de Carvalho, designer de interiores, realiza projetos para o mundo inteiro e quer internacionalizar a sua linha de mobiliário, 100% produzida por artesãos portugueses.
Líderes

Cristina Jorge de Carvalho é um dos nomes de referência na área do design de interiores em Portugal. A designer assina projetos relevantes, desde casa particulares, hotéis, apartamentos modelo, escritórios, um pouco por todo o mundo. Falamos, por exemplo, de projetos concebidos para moradias privadas na Quinta da Marinha e na Quinta Patiño, apartamentos no Príncipe Real, a loja de luxo da Stivalli e o hotel Octan Douro. Isto só para citar alguns dos projetos em que esteve envolvida nos mais de 20 anos do seu atelier, situado na Avenida da Liberdade, em Lisboa.

Ao longo dos anos, esta profissional tem construído a sua carreira de forma sólida e recebeu várias distinções, como o prémio para a categoria conceptual do International Design Awards com o seu projeto para a Fundação Champalimaud.

Cristina Jorge de Carvalho entende que ser empreendedora faz parte do seu ADN, pois quando acredita num projeto, avança.

A carreira de designer de interiores não foi, desde cedo, uma escolha óbvia, pois esta profissional, licenciada em Gestão de Empresas, começou por trabalhar primeiro nesta área, tendo sido até professora no ISCTE e no ISCEM. Depressa percebeu que a arquitetura e o design de interiores eram uma paixão que falava mais alto do que a gestão, e decidiu mudar de rumo. Foi em Londres que tira o curso, na conceituada Inchbald Scholl of Design.

Como profissional, Cristina Jorge de Carvalho define-se “como determinada, criativa, organizada, metódica e com sentido de humor”. Entende que ser empreendedora faz parte do seu ADN, pois quando acredita num projeto, avança. Explica que gosta de liberdade para criar espaços únicos e que reflitam a identidade do cliente.

Mãe de dois filhos, projeto que afirma ter corrido muito bem, não esquece o seu lado feminino. “Como mulher sou forte, mas sensível, prezo a liberdade e necessito de momentos de isolamento. Sou divertida, adoro dançar, viajar, estar com os meus amigos”, afirma.

Conheça a seguir um pouco mais desta empreendedora, que falou à Forbes Portugal em entrevista.

Relativamente ao seu percurso, este iniciou-se na área da Gestão, tendo sido também professora. O que a levou a seguir Gestão?

Desde miúda sempre achei que podia ser engenheira civil, arquiteta ou gestora.  Inicialmente era para seguir arquitetura, mas a arquitetura naquela época era uma carreira mais desafiante (achava eu) e, como tal, decidi estudar gestão.

Não só adorei o curso, em especial as cadeiras financeiras, como se veio a revelar muito útil na minha carreia de designer. Talvez por isso, logo que acabei o curso fui convidada para ser assistente de cadeiras financeiras, uma delas que os alunos detestavam – contabilidade. Ainda assim, obtive resultados ótimos como professora. Foi um desafio extraordinário converter uma cadeira “detestada” numa cadeira com um número enorme de assistência. Depois, de forma sucessiva, fui sendo convidada para dar pós-graduações, lecionando gestão e análise financeira. Também dei aulas na Ordem dos Advogados, isto é, tendo em conta o curso que os advogados têm de fazer na admissão à ordem.

Como e quando surgiu então o gosto pela Arquitetura e pelo Design?  

Depois do ensino passei para a televisão. E, passados vários anos da conclusão da licenciatura, decidi que queria mudar, uma vez que não me sentia realizada. Daí surge a arquitetura e o design de interiores, quando opto por regressar à minha primeira paixão. Decidi-me pelo design de interiores e fui para Londres estudar, na Inchbald School of Design. Durante o curso percebi que estava na área certa.

Foto/Francisco de Almeida Dias

Como foi mudar de área e começar do zero um projeto próprio? Que apoios teve?

Foi muito aliciante. Quando estamos apaixonados, o que pode ser difícil é imediatamente transponível. Tive a sorte de um amigo ter confiado em mim e de me ter dado um apartamento modelo para fazer, apartamento esse inserido num espaço que teria de ter sala para clientes, sala para vendedores, mais casa de banho, sala de maquetes ett. Tudo num módulo prefabricado, onde eu teria de definir tudo – a arquitetura do módulo e a decoração do apartamento modelo. Correu tão bem que foi capa da Máxima Interiores.

Como e quando foi fundado o seu atelier? Quais as primeiras dificuldades e barreiras que sentiu no arranque do projeto?

Não tenho uma data fixa, pois nos primeiros anos não trabalhava a full-time, talvez 2003/ ou 2004. Atualmente, o atelier, situado na Avenida da Liberdade, em Lisboa, desenvolve projetos de arquitetura de interiores e design de interiores em residências privadas, hotéis e espaços comerciais, entre outros. 

Como se conseguiu reinventar e construir um atelier de sucesso? Qual foi o segredo ou momento chave em que isso aconteceu?

Tive a sorte de os primeiros projetos terem tido bastante visibilidade, e daí apareceram outros clientes. Olhando para trás, reconheço a importância de ter um portfólio diversificado, com clientes nacionais e internacionais (com obra feita em Portugal e em muitas outras geografias), como hotéis, apartamentos modelos, escritórios e residências privadas. Todos estes projetos representam desafios diferentes e, ao mesmo tempo, aprendizagens.

Foto By Belen Imaz

Quando começaram a surgir os primeiros clientes? Como se deu a conhecer ao mundo do luxo?

Os meus projetos têm um luxo subtil, e penso que as pessoas que apreciam o luxo (não ostentoso) se identificam comigo e com a exclusividade e personalização de cada projeto, pelo que contratam os serviços do atelier. O mesmo com a imprensa. Os meus projetos foram publicados em revistas internacionais de Interior Design, em títulos de Hong Kong, Singapura, Índia, Rússia, Brasil ou Turquia, entre outros países.

Quais foram os seus projetos mais emblemáticos? Ou aqueles que abriram mais portas ao crescimento do negócio?

Um dos projetos mais emblemáticos foi, para mim, uma casa no Algarve, onde fiz o projeto de arquitetura e a respetiva decoração. O cliente deu-me liberdade total, e esta casa recebeu um prémio internacional – “Best Architecture Single Residence Portugal”.

Quanto aos restantes projetos, gosto de todos, pelo que não consigo ressaltar um em particular. Cada um deles tem características próprias e são muito diferentes. A minha génese é minimalista. No entanto, tenho feito essencialmente projetos não minimalistas e gosto imenso de os fazer. Concluí, não faz muito tempo, que sou muito eclética.

Como negócio, qual é a dimensão atual do mesmo? Que investimentos tem previstos? A internacionalização física é um dos objetivos?

A área do Interior Design não tem as mesmas regras que a maioria das empresas. A internacionalização física é rara. Não estou a prever internacionalização em stricto sensu, no entanto, tenho projetos lá fora (Londres, Paris, Angola ou Nova York), porque os clientes me bateram à porta, e não como resultado de uma ação de marketing ou comercial.

Foto/Manolo Yllera

Qual a vossa ambição em termos de crescimento? Qual a estratégia que está a seguir para os próximos cinco anos?

Tenho uma linha de mobiliário, que todos os anos cresce, e gostaria de a internacionalizar, alcançando outros mercados. É uma linha inteiramente produzida em Portugal e executada à mão por artesãos. O design é contemporâneo e intemporal, seguindo a linha identitária do atelier. As peças têm sempre uma mistura de diferentes materiais (madeira, pedra, metais, entre outros), que as tornam únicas.

O que ainda lhe falta fazer? O que ainda sonha concretizar em termos profissionais e pessoais?

Ando a refletir sobre este tema. A determinada altura da vida temos de pensar profundamente sobre o que queremos fazer, o que é importante, o que já não nos realiza, e o que queremos ainda fazer. Concluída a reflexão, dure o tempo que durar, irei certamente tratar de concretizar esses sonhos.

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