Num cenário onde o empreendedorismo e a paixão pela gastronomia se entrelaçam, surge uma figura notável no mundo da restauração: Viviane Rocha Leote. Com um percurso marcado pelas suas conquistas empresariais, Leote é a mente por trás da Confraria do Sushi, da renovada Vela Latina, Nikkei, Charcutaria, Waka, Forest, Bossa e, futuramente, da Casa do Largo. Em sociedades nalguns dos projetos, muitos deles concebidos de raiz pela própria, Viviane demonstra a força e a determinação características das mulheres de negócios, aliadas ao seu lado criativo e artístico.
O seu percurso pelo mundo da restauração começou há mais de duas décadas, quando, em 2001, Viviane decidiu deixar o Brasil e mudar-se para Portugal. Já familiarizada com o nosso país resolveu ficar-se por Cascais, onde ainda hoje mora. Começou por servir às mesas e, muito rapidamente, passou a assumir cargos cada vez mais de maior responsabilidade. Em 2003, já estava a gerir um restaurante de topo na Marina de Cascais.
Pouco tempo depois, Viviane verificou que poucos restaurantes serviam sushi de qualidade na nossa capital e, em 2008, decidiu abrir a Confraria do Sushi. Um projeto que antes fora adiado por ter sido mãe, e que marcou o início desta sua vertente de empresária. Seguiram-se a nova Vela Latina, Nikkei, Charcutaria, Waka e agora a Bossa, na Marina de Cascais. Este último foi o primeiro projeto a solo de Viviane, com um business plan concebido e executado por si própria. Apesar de terem surgido alguns percalços pelo caminho, Vivi (como é conhecida pelos mais próximos) afirma ter adquirido “uma nova força”, o que muito a faz lembrar os seus primeiros passos na restauração. Um outro projeto seu, a pizzaria Forest, está prestes a ser inaugurado.
A FORBES esteve à conversa com Viviane Rocha Leote, que nos contou como tudo começou, como gere os seus negócios, e como hoje em dia é convidada a assumir o papel de consultora na decoração, planeamento de projetos e consultadoria da carta de outros espaços que não os seus – por exemplo, o Matchamama, no Lx Factory. Falámos ainda sobre o seu papel nas redes sociais, em particular no Instagram, onde já conta com mais de 50 mil seguidores. Sem medo de se aventurar em novos desafios, o espírito de empreendedora de Viviane estende-se por áreas que não apenas a da restauração. Já lançou a sua própria coleção de jóias em parceria com a Pricci, a Vivi Collection Jewellery, e acaba de lançar uma marca de roupa desportiva, a Piiiton. Mãe de quatro filhos, Viviane não pára. Organiza vários torneios solidários de padel, inspirada pelo seu gosto do desporto, sendo considerada por muitos como sendo uma impulsionadora, cá, da sua modalidade feminina. Contou-nos, também, que já está a terminar a Casa do Largo – um novo restaurante, em Cascais, que recupera o nome de um restaurante antigo que lá havia, e que diz constituir o maior investimento do grupo Confraria até à data. O conceito do restaurante ainda é segredo e espera abrir em finais de Março. Viviane é uma mulher multifacetada cuja trajetória inspiradora tem vindo a dar que falar.
Vivi, antes de falarmos do seu primeiro projeto empresarial em Portugal, a Confraria do Sushi, gostava de falar sobre o seu percurso até então. Porque é que decidiu vir para Portugal?
Viviane Rocha Leote: Claro! A verdade é que nunca tinha pensado em emigrar, nem sequer sair do meu país. Estava a tirar o curso de Medicina, no Brasil, mas rapidamente percebi que aquilo não era para mim. Considero-me uma ‘esponja’, absorvo muito o que acontece com as pessoas à minha volta, o que não ia de mãos dadas com o curso, por razões óbvias. Assim que larguei a Medicina, fiz um exame de entrada a um curso Direito. Confesso que também não me dizia muito, mas, como passei o exame, pensei que talvez fosse esse o meu percurso. E, entre uma coisa e outra, apaixonei-me pelo um homem no Brasil. Foi uma história de amor gigante, de cerca de sete meses, mas que acabou por correr mal. Assim que essa relação terminou, percebi que tinha de mudar a minha vida!
E foi nessa altura que quis vir para cá?
Viviane Rocha Leote: Sim. Começou por ser uma tentativa de mudar de ares, para curar aquela dor de amor que tinha, e vim. A minha mãe era totalmente contra e o meu pai achava que era uma coisa de curta duração, que eu ficava cá três meses, que me esquecia do que se tinha passado, e que voltava.
Mas não foi assim, como sabemos!
Viviane Rocha Leote: É verdade! Estive cá três meses e curei essa minha dor de amor, como lhe chamo. Claro que durou um pouco mais que os tais meses, mas nunca mais voltei. Senti que tinha de fazer alguma coisa para me distrair e ganhar dinheiro, e comecei a trabalhar num café, num bar. Gostava genuinamente do que fazia. Gostava daquela vida, de receber pessoas, e esse tipo de trabalho nunca me incomodou. Nem tão pouco me senti diminuída ao fazê-lo, muito pelo contrário. Dedicava-me, fazia-o por gosto, por brio, e rapidamente comecei a assumir cargos de responsabilidade nos lugares onde trabalhava. Comecei a gerir algumas casas, sempre em restauração.
Dedicava-me, fazia-o por gosto, por brio, e rapidamente comecei a assumir cargos de responsabilidade nos lugares onde trabalhava.
E sempre na zona de Cascais? Como é que surgiu a ideia de começar o seu próprio negócio?
Viviane Rocha Leote: Sim, vim logo para cá. Lembro-me que sempre tive o hábito de comer sushi com o meu pai, que desde cedo incutiu em mim o gosto de experimentar coisas novas no mundo. Quando cá cheguei, reparei que havia essa lacuna no mercado. Estávamos em 2001, e poucos eram cá os restaurantes que tinham sushi na altura, claro. Percebi que existia esse nicho no mercado e que havia aí a oportunidade de abrir o meu próprio restaurante. Já tinha alguma experiência na restauração, tinha 28 anos, já tinha uma filha, a Vitória, e já estava casada! O meu projeto de vida profissional rapidamente passou a ser esse.

Mas, entretanto, voltei a ficar grávida – desta vez, de gémeos! O projeto acabou por ‘ir para a gaveta’, a prioridade eram os meus filhos, mas a ideia não me tinha saído da cabeça. De repente, quando o Frederico e o Gustavo tinham um ano e meio, encontrei o espaço ideal para o negócio. Falei então com o meu agora ex-marido, Jorge Leote, e disse-lhe que tinha que ser aquele espaço, que era aquele o sítio ideal.
E ainda hoje a Confraria é nesse mesmo espaço! O Jorge alinhou logo?
Viviane Rocha Leote: É verdade! O Jorge foi fundamental para mim naquela altura. Tive de apresentar um projeto ao proprietário, porque havia um monte de pessoas interessadas. Um espaço como aquele foi muito concorrido, mas acabámos por ser nós os escolhidos. Eu já tinha juntado algum dinheiro com o meu trabalho, mas não era grande coisa. Tinha poupado cerca de 35 mil euros. O proprietário pediu uma garantia bancária de 27 mil euros, o que não me dava grande espaço de manobra para as obras que eu queria fazer no espaço.
Então arriscou seguir em frente mesmo tendo de fazer obras.
Viviane Rocha Leote: Exatamente. Aceitei o valor que me foi pedido e tive de me desenrascar! Eu fui pintar mesas, comprar cadeiras baratas, etc. A obra teve ser feita dessa maneira. Segui, também, um conselho do meu pai, que sempre me deu imensos conselhos de vida, apesar de não trabalhar em restauração. Sempre me disse que, se um dia abrisse um restaurante, o meu sócio tinha de ser o meu cozinheiro! Não podia ser um terceiro, tinha de ser uma pessoa que trabalhasse comigo em tandem.
E fê-lo?
Viviane Rocha Leote: Fui logo convidar um Sushiman, aqui de Cascais, que era o meu cozinheiro preferido. Era, e é, uma pessoa muito correta e honesta, e disse-me que sim. Só que não tinha dinheiro para investir comigo. Pensei, portanto, que devíamos ter um terceiro sócio, um sócio investidor. Uma amiga minha ofereceu-se para me ajudar e o Jorge também. Na altura disse ao Jorge que estava fora de questão, até porque eramos casados e, caso corresse mal, íamos ter 66% das dívidas do negócio…
Mas mudou de ideias?
Viviane Rocha Leote: Mudei. Acreditava muito no projeto, sentia que ia correr bem. O Jorge ficou com a terceira parte do investimento e eu consegui abrir o restaurante. Foi aberto no dia 23 de fevereiro e chovia torrencialmente, logo no primeiro dia de abertura.
E, pelo que me contou, não houve uma inauguração, certo?
Viviane Rocha Leote: Certo. Não houve festa, nada. Estava a chover imenso, era inverno, estava frio… Mas o restaurante encheu! Fui fazendo um soft launch. Quis começar por testar os pratos nos primeiros dias. Foi uma maneira de perceber o que funcionava e o que precisava de ser melhorado.
E contou-me que usou uma estratégia muito original para essa sua inauguração soft.
Viviane Rocha Leote: Sim, é verdade. Convidei algumas amigas, que traziam consigo outras pessoas, e reservava-lhes uma mesa. Fi-lo com outras pessoas, também. Mas nem uns nem outros sabiam que as mesas eram para pessoas que eu tinha convidado. No fundo eram todos convidados, mas eles só acharam que o restaurante estava cheio! E isso fez com que a palavra se fosse espalhando, claro.
E deve ter aumentado a curiosidade de quem por lá passava.
Viviane Rocha Leote: Sim, é verdade. E, por acaso, até há uma história engraçada sobre isso. Enquanto estávamos a fazer as obras, antes de abrir, muitas das pessoas que passavam por lá perguntavam-me se eu ia reabrir o Mise en Scène, o antigo café que se tornara a Confraria. Isso criou em mim uma ansiedade enorme, porque percebi que eram essas as expectativas dos meus futuros clientes que eram fiéis às famosas saladas e sobremesas do antigo espaço. Mas a meio das obras, o empreiteiro entregou-me um papel, já todo deformado, onde se lia “o meu nome é Jane, sou a antiga cozinheira do Mise em Scène e estou à procura de trabalho”. Liguei-lhe de imediato e perguntei se sabia fazer as saladas e as sobremesas, e se sabia onde podia comprar o tão conhecido chá que serviam antigamente. Ela disse-me que sim e contratei-a logo.

Claro, para manter os antigos clientes também.
Viviane Rocha Leote: Exatamente. Era essencial, para mim e para os clientes. Quando abrimos, servíamos sushi e as saladas. Na verdade, várias eram as pessoas que vinham à procura da salada e que acabavam por provar o sushi por sugestão nossa. Passado muito pouco tempo, já 90% das vendas do restaurante eram sushi. A salada ficou ‘para trás’. Mas ter a cozinheira do antigo restaurante foi crucial. A Confraria foi um sucesso – graças a Deus ainda o é!
Várias eram as pessoas que vinham à procura da salada e que acabavam por provar o sushi por sugestão nossa.
E, um ano e meio depois, surge o convite para abrirem uma outra Confraria em Lisboa, certo?
Viviane Rocha Leote: Sim, é verdade. Nós tínhamos clientes que vinham de Lisboa de propósito e, portanto, sabíamos que havia muita procura. O Gonçalo Dias, do LX Boutique Hotel, em Lisboa, convidou-nos a abrir a Confraria no espaço dele. Meses depois abrimos o restaurante. Replicámos o que já tínhamos e começámos a fazer os pequenos-almoços para o hotel, também. Já lá estamos há 13 ou 14 anos. Quando comecei esse projeto, estava grávida do meu quarto filho, o Salvador.
E pouco tempo depois abriram outro no Mercado da Ribeira também.
Viviane Rocha Leote: Sim! O conceito por trás do Mercado era o de convidarem os 30 melhores restaurantes, cada um na sua área, a terem um espaço pequeno lá dentro. Fiquei orgulhosa de ter sido convidada para a área do sushi e aceitei. Fomos para lá, mas mais naquela de que seria uma coisa mais promocional do que um negócio em si. Era um espaço pequeno, de 13 metros quadrados. Mas revelou-se ser um excelente negócio! Além da promoção que fez aos nossos restaurantes, começámos rapidamente a conseguir números de que não estávamos à espera.
Imensos convites, portanto. E quando é que surgiu a oportunidade de se juntarem à Vela Latina? Espaço esse já com muita história, também.
Viviane Rocha Leote: É verdade. O Salvador Machaz, da Vela Latina, começou por nos propor a ficar com o bar do espaço. Mais tarde, e porque o Salvador tem uma relação afetiva com o espaço, propôs-nos uma outra ideia: a de ficarmos com 50% do espaço e, em vez de ter apenas um bar de sushi, ficarmos, também, com a zona de self-service, que é virado para a marginal. Aceitámos e começámos de imediato a pensar no conceito asiático que iríamos incorporar na Vela Latina.

Mas mudaram rapidamente de ideias.
Viviane Rocha Leote: Sim. Quando lá entrei, achei que a decoração estava ‘datada’. Queria rejuvenescer o espaço! Mas, devido à história do espaço, e quanto mais tempo lá estive a trabalhar, mais me apercebi que a Vela Latina, tal como estava, tinha um valor imenso. Já era um local de peso, em Lisboa, e seria muito arriscado perder a história que marcou tantas gerações. Foi um desafio enorme tentar conciliar uma remodelação mantendo esse lado histórico único. Outro objetivo meu era o de incentivar mais mulheres a frequentar o restaurante.
Seria muito arriscado perder a história que marcou tantas gerações.
E como o fez? Isto é, remodelar o espaço, sem perder a sua essência, e incentivar mais mulheres a irem ao restaurante?
Viviane Rocha Leote: Foi complicado. Desenhei o espaço e trabalhei vigorosamente com um projetista, dia após dia. Fi-lo sem ter a certeza absoluta de que os restantes sócios (a família que detêm os restantes 50% da Vela Latina e os meus sócios da Confraria) gostassem da minha ideia. Mas o projeto é muito fiel à nossa realidade. Assim que lhes mostrei a minha ideia, tive 100% da aprovação deles!

A minha estratégia foi a seguinte: trazer ao espaço uma decoração mais moderna, mais aconchegante, mas por isso nunca moderna demais. Decidi manter o ‘clássico’, para não perder clientes. Tive, também, de garantir que a decoração era apelativa para mulheres – antigamente o nosso público era maioritariamente masculino. Começámos a servir jantares, coisa que a Vela Latina não fazia anteriormente, e este aglomerado de alterações foi a receita para o sucesso.
Começámos a servir jantares, coisa que a Vela Latina não fazia anteriormente, e este aglomerado de alterações foi a receita para o sucesso.
É muito interessante que essas alterações tenham ajudado tanto na assimetria que existia quanto à percentagem de mulheres que lá iam.
Viviane Rocha Leote: É verdade, são ‘pequenas’ coisas que mudam o paradigma. Está muito mais equilibrado – temos mulheres de negócios ao almoço, como temos mulheres que lá vão almoçar e jantar mais numa de descontraídas! Aquelas reuniões importantes que tanto marcam a história do espaço continuam a acontecer, mas conseguimos alargar o leque.
De facto, para políticos e pessoas em outros cargos importantes, a Vela Latina sempre foi um espaço icónico. Quanto tempo é que lá esteve a trabalhar, como sócia-gerente, até perceber a magnitude da história dela?
Viviane Rocha Leote: Exatamente. É um espaço que há mais de 30 anos é gerido pela família do Salvador, que me fez o convite de me associar com ele, em parceria. Estive a ‘absorver’ o espaço quase um ano inteiro. Foi um ano essencial que em muito ditou o sucesso do que lá estamos a fazer. Quando percebemos que era um espaço especial, criámos um novo conceito que não apenas o sushi. De nome não ia ser uma Confraria, apesar de, agora, fazer parte do grupo. E foi assim que nasceu o espaço Nikkei, uma cozinha de fusão de peruana e japonesa, na Vela Latina.
E foi assim que nasceu o espaço Nikkei, uma cozinha de fusão de peruana e japonesa, na Vela Latina.

Ou seja, um novo conceito adaptado, mas sempre ‘em linha’ com o que o grupo faz. Em paralelo, e antes de inaugurar o Nikkei, a Vivi abriu ainda um outro restaurante para ‘testar’ a ementa do que hoje é lá servido, certo? O Waka.
Viviane Rocha Leote: Certíssimo. Tínhamos um espaço na Rua Amarela, em Cascais, onde abrimos uma espécie de laboratório, como lhe chamo, para o que viria a ser o Nikkei da Vela Latina! O Waka foi aberto com um chef cinco estrelas que tinha chegado do Perú. Começámos a testar pratos e a aceitação das pessoas face ao que lhes estávamos a servir foi um sucesso! O Waka era um espaço pequeno, com apenas 30 lugares, mas tínhamos 99% de aprovação da nossa comida. Claro que isso me deu imensa segurança. Quando o Nikkei abriu, continuámos com o mesmo chefe, que ainda está connosco.
E o Waka foi mesmo um teste, porque já não existe, não é?
Viviane Rocha Leote: Sim, desapareceu. O nosso objetivo sempre foi o que experimentar coisas novas e perceber o que ia, ou não, funcionar. E, como bons empreendedores, não podíamos perder o foco no que realmente era importante: abrir o Nikkei. Diria que é uma versão muito melhorada do Waka; é um ‘furo acima’, em boa verdade.
Como bons empreendedores, não podíamos perder o foco no que realmente era importante: abrir o Nikkei.

Claro, sempre com as prioridades em ordem. E, depois da vossa abertura, a Vela Latina abriu ainda outro espaço, a que chamou Charcutaria. Num crescimento sem fronteiras!
Viviane Rocha Leote: Sim! Havia um espaço perto do restaurante que alugávamos a uma escola de vela. Voltámos a ficar com o mesmo e, apesar de ser um espaço pequeno e sem cozinha, usamo-lo para vinhos, queijos, presunto, etc. A ideia não era a de criar um novo restaurante, claro, mas temos a cozinha de apoio da Vela Latina. Está virado para a Doca de Santo Amaro e tem corrido bem.
Mas, com a pandemia, surgiu a oportunidade de renovar ainda mais um outro espaço que também vos pertence.
Viviane Rocha Leote: Sim, a área de self-service, virada para a marginal. Sempre foi um espaço muito movimentado e servia imensas refeições. Hesitámos em fazer alterações visto estar a funcionar tão bem. Só que, com o Covid, deixámos de ter o fluxo de antigamente. Os turistas desapareceram e veio o lockdown. Aproveitámos essa altura para pensar em como remodelar essa área.
Espaço esse que vai abrir agora: o Forest.
Viviane Rocha Leote: Exatamente. O Forest é uma pizzaria-cafetaria que vai abrir agora. O espaço já está pronto e abrimos mais uma esplanada.
O Forest é uma pizzaria-cafetaria que vai abrir agora.
A Vivi tem imensa energia e capacidade para se desdobrar em, e de se debruçar sobre, vários projetos ao mesmo tempo. Até porque, entretanto, abriu o Bossa, outro restaurante.
Viviane Rocha Leote: É porque o faço por gosto, sabe? Gosto muito de começar projetos e de dar o meu melhor em todos eles. O Bossa, em Cascais, começou por ser outro convite que me foi feito pela Marina de Cascais. Foi um convite pessoal, ou seja, trata-se de um projeto só meu e não faz parte do grupo da Confraria.
Gosto muito de começar projetos e de dar o meu melhor em todos eles.

Acaba por voltar às suas origens. Não só pelo conceito do Bossa, mas também por voltar a trabalhar na Marina, onde tudo começou.
Viviane Rocha Leote: Exatamente. Convidaram-me a abrir um restaurante na zona mais fashion da Marina; quer isto dizer, na zona de lojas e não na de restauração propriamente dita. O Benjamin Katz, que comprou a Marina, pediu-me que o fizesse para que houvesse um restaurante ‘de apoio’ às lojas. De início hesitei, confesso, mas o Benjamin é um ótimo businessman e está realmente a dar uma nova vida à parte de restauração da Marina. Resolvi avançar e, em Julho de 2023, abri o Bossa.

Foi um projeto difícil, com alguns percalços pelo caminho. Aliás, foi a obra mais complicada que me empenhei até à data! O Bossa é um projeto que me é muito pessoal; baseei-me muito em memórias afetivas minhas. Trouxe para o restaurante um pouco daquilo com que cresci no Brasil. A decoração faz-me pensar muito no meu próprio estilo e na minha casa. Até as aguarelas que estão penduradas nas paredes são peças minhas. Costumo dizer que a minha ‘trilha sonora’ é a bossa nova, daí o nome.
O Bossa é um projeto que me é muito pessoal; baseei-me muito em memórias afetivas minhas.
É um restaurante muito pessoal, portanto. E com imensa atividade.
Viviane Rocha Leote: Completamente. Temos uma esplanada muito viva e o restaurante está aberto muitas horas por dia porque cumpre o horário das lojas. Servimos pequeno-almoço, almoço e jantar. Aos Domingos sirvo feijoada – a mesma receita que sempre usei em casa. Sempre a fiz para os meus amigos e agora é um sucesso no restaurante. Quando à decoração, quis criar um ambiente fresco, sofisticado, e mais “de Verão”. Tocamos sempre Bossa Nova e às quintas temos rodas de samba. Vamos começar, agora, a ter uma happy hour!
É realmente um projeto de que me orgulho imenso. Fi-lo completamente sozinha, pela primeira vez. Tinha uns investidores muito interessados e fiz um business plan que, tenho de admitir, era muito otimista! Não era irrealista, claro, mas os resultados que previ nesse plano eram muito ambiciosos. Arrisquei e estamos a conseguir, graças a Deus. Claro que o Bossa ainda não tem um ano, mas está tudo a correr muitíssimo bem, na direção otimista do tal business plan por mim pensado.
Noutros projetos meus, os meus sócios encarregavam-se sempre das funções mais específicas inerentes às negociações (gás, equipamentos de cozinha, eletricidade, etc.). No Bossa fui eu a assumir as rédeas – sem ter de recorrer a sócios ou investidores.

E tudo isto com os vários percalços que diz ter tido. Foi e é uma vitória.
Viviane Rocha Leote: Sim, e teve tudo lugar numa fase conturbada na minha vida pessoal, também. Com os atrasos das obras o projeto estava mais demorado do que tinha previsto e a Marina de Cascais queria que abrisse o quanto antes. Houve alturas em que pensei em desistir em vez de assumir toda esta nova responsabilidade, mas um dia acordei e disse “ou eu avanço, ou isto já não sou eu!”.
Houve alturas em que pensei em desistir em vez de assumir toda esta nova responsabilidade, mas um dia acordei e disse “ou eu avanço, ou isto já não sou eu!”.
Informei a Marina que contava abrir em 15 dias – sem sequer ter as paredes do Bossa feitas! Liguei aos fornecedores com que já tinha trabalhado antes (nas várias Confrarias, Vela Latina, Nikkei e Charcutaria), falei com o meu engenheiro, os técnicos do teto acústico, dos equipamentos de cozinha, o eletricista, etc. Reuni-os a todos e disse-lhes “meus queridos, nós já trabalhámos em várias obras e, neste momento, estou a precisar de vocês todos. Temos 15 dias para abrir o restaurante. Eu comprometi-me a fazê-lo, dei a minha palavra, mas só o consigo fazer com a vossa ajuda”. Todos alinharam e, em três semanas, o Bossa abriu. Só não o conseguimos fazer em 15 dias porque uns canos rebentaram e não havia volta a dar sem ser o resolver o problema antes da inauguração, claro. Foi uma vitória, certamente. Eu vacilei, duvidei de mim, e foi o Bossa que me fez voltar a ser aquela pessoa que eu era.
Foi uma vitória, certamente. Eu vacilei, duvidei de mim, e foi o Bossa que me fez voltar a ser aquela pessoa que eu era.
E é esta resiliência que tanto a distingue, quanto sei. Entre a abertura do Bossa e a inauguração da Char.cutaria, ainda arranjou tempo para ajudar outros negócios, que não os seus. Por exemplo, o Matchamama, no LX Factory.
Viviane Rocha Leote: É verdade. Fui convidada na capacidade de consultora para o Matchamama, para os ajudar a desenhar o projeto de decoração e o conceito do espaço. Havia a possibilidade de me juntar como sócia, mas não era a altura certa para o fazer. Aceitei porque dá-me gozo fazê-lo, e trabalhar com eles foi excelente! Deram-me carta branca total, a decoração foi feita mesmo à minha maneira. Ainda hoje vou lá várias vezes visitá-los e dou-lhes sempre a minha opinião.
Mas a Vivi não fica por aí: é, também, uma influencer. E já conta com mais de 50 mil seguidores no Instagram!
Viviane Rocha Leote: Sim! Na verdade, foi uma coisa completamente orgânica. Gosto imenso de cozinhar e receber pessoas em minha casa, e tirava fotografias da decoração que fazia às minhas mesas de jantares e almoços. Comecei a publicá-las no Instagram e os meus seguidores foram crescendo! Quando criei uma conta não tinha nenhum objetivo de seja lá o que fosse. Era apenas um diário da minha vida, fotografias da minha casa, dos meus filhos, etc. Acabou por atingir uma proporção que jamais planeei. Rapidamente começaram a perguntar-me onde tinha comprado certas roupas e acessórios, e atualmente é esse o maior interesse daqueles que me seguem.
Acabou por se tornar, aos olhos de muitos, uma personalidade. Mulher de negócios e cheia de personalidade.
Viviane Rocha Leote: Obrigada! Acho que andar sempre arranjada e, portanto, projetar uma imagem diferente do que talvez se espera de pessoas na minha posição, contribuiu muito para isso. Há muito aquele estereótipo de que uma mulher só pode fazer uma coisa bem feita. Ou é uma boa mulher de negócios, ou é boa apenas noutra outra área da sua vida. Mas eu tenho brio. Gosto de fazer tudo bem feito: dos pequenos-almoços que faço em casa e as fotografias que publico no meu Instagram, à gestão dos meus restaurantes. Até no desporto (jogo padel há muitos anos) sou assim. Sou competitiva por natureza e participo regularmente em torneios de padel.
Há muito aquele estereótipo de que uma mulher só pode fazer uma coisa bem feita.

Torneios estes que são solidários e organizados por sim, não é?
Viviane Rocha Leote: É verdade! Comecei por ir a outros que não os meus e, como boa empreendedora, comecei logo a pensar em como poderiam ficar mais bem organizados. E, para isso, o que é que faço? Começo a organizar os meus próprios torneios de padel! Faltava-me uma vertente solidária na minha vida e decidi fazê-lo através do desporto. Se aparece alguém na minha vida que precisa da minha ajuda, penso logo em organizar um torneio. Faço o catering do evento, ligo aos meus fornecedores e pergunto-lhes se o querem patrocinar, ligo a amigos e arranjo um DJ, cobro entradas no torneiro e, em meia hora, tenho 30 pessoas inscritas. Em minutos, junto o dinheiro necessário para ajudar a pessoa que me pediu ajuda. O primeiro torneio solidário que fiz coincidiu com a criação da nossa equipa de padel da Confraria.
O primeiro torneio solidário que fiz coincidiu com a criação da nossa equipa de padel da Confraria.
Têm uma equipa oficial já?
Viviane Rocha Leote: Sim! Houve um torneio de empresas e tivemos de criar uma equipa nossa. Lembro-me que jogámos contra equipas masculinas, mas eu optei por ter uma equipa composta apenas por mulheres. Fui a uma loja de desporto e comprei tops e saias iguais para todas. Parecia muito mais profissional do que cada uma jogar com a roupa que tinha. Fomos jogar e não só estávamos bem arranjadas como sabíamos mesmo jogar. Passámos logo à primeira fase do torneio de empresas! Salvo erro, só fomos eliminadas nos quartas-de-final ou nos oitavos. E mesmo assim, já na fase de apurações, os organizadores do evento pediram-nos para jogarmos na final. Já no último torneio em que participámos fomos apuradas, nós e a Nestlé. Fomos as duas empresas apuradas na região de Lisboa.
E foi nessa altura que decidiu começar uma linha de roupa…
Viviane Rocha Leote: Exatamente! Começámos a procurar uma “farda” para a equipa e não encontrávamos nada que se encaixasse bem connosco. Uma amiga minha – Teresa Pinto Basto (Piu), que joga na equipa, sugeriu criámos a nossa própria roupa. E eu, que faço o que gosto e pergunto sobre aquilo que não domino, achei que era uma ótima ideia. Ela tinha o know-how necessário, tanto em produção como nos fornecedores. Juntou-se outra amiga nossa; a Inês Sarrail, também da equipa, com know-how no digital. Criámos a Piiiton, que é uma marca de roupa desportiva com uma primeira coleção muito voltada para o padel. A segunda coleção já é mais abrangente, vai incluir peças de roupa para beach tennis, etc.
Criámos a Piiiton, que é uma marca de roupa desportiva com uma primeira coleção muito voltada para o padel.
A marca já está criada, está pronta. Fizemos um pré-lançamento num almoço no Bossa. O site está neste momento a ser feito e está a chegar uma coleção de ginástica, também. É um projeto tão recente que ainda nem fizemos a comunicação da marca.
E esta não é primeira vez, nem a única, em que experimenta fazer uma coisa fora da caixa. Também já desenhou uma coleção de jóias, há pouco tempo…
Viviane Rocha Leote: Sim, fui convidada pela Pricci para fazer uma colaboração com eles, a Vivi Collection Jewellery. Fi-lo em 2023 e foi uma edição limitada. Já me convidaram a fazer uma segunda coleção, que aceitei, e já tenho na cabeça exatamente o que quero. A primeira vez é sempre um teste porque somos apanhados totalmente de surpresa, especialmente em áreas que não dominamos. Mas para a segunda coleção, já sei que caminho vou seguir. Tenho imensas ideias já.
Fui convidada pela Pricci para fazer uma colaboração com eles, a Vivi Collection Jewellery.
Então já está cheia de novos projetos! Sem ser os que mencionou agora e a abertura do restaurante Forest, tem mais algum projeto futuro?
Viviane Rocha Leote: Tenho, sim. Adquirimos um espaço à frente da Confraria, a Casa do Largo. Era um restaurante, antigamente, e esse é o meu próximo projeto. Posso avançar que não vai ser um restaurante asiático, chamar-se-á Casa do Largo, e é o maior investimento do grupo até à data. É o nosso projeto mais trabalhado, está tudo pensado de uma ponta à outra, e em princípio ficará pronto em fevereiro. Espero abri-lo, o mais tardar, até ao fim de março deste ano. Já quanto ao conceito, ainda não o quero revelar. É surpresa!
Adquirimos um espaço à frente da Confraria, a Casa do Largo. É o maior investimento do grupo até à data.

Por fim, algumas palavras que quer deixar a futuros empreendedores e empreendedoras?
Viviane Rocha Leote: Acho importante desmistificar o estereótipo de que uma mulher, se for inteligente, não pode ser bonita nem ser boa dona de casa. Nunca o tentei desmistificar, mas a verdade é que tenho quatro filhos, trabalho, e cuido de mim própria. Apesar de não gostar da pressão que existe na sociedade, que insiste na ideia de as mulheres precisarem de conseguir fazer tudo e mais alguma coisa, também não gosto do contrário. Não temos de estar confinadas a uma coisa apenas. Lembro-me de ir a reuniões de negócios, com sócios meus, e de ser ignorada pelos terceiros com que íamos falar. O meu pai sempre me ensinou a falar menos. Dizia que a sabedoria vinha de saber ouvir e de que falar vinha o arrependimento. E assim o fiz. Ouvia com calma e, aos poucos, começava a interagir, a fazer perguntas, e a mostrar-lhes que sabia do que estava a falar. Acho importante conseguir demostrar que é possível ter mais do que uma só faceta. Todos sabemos fazer mais do que apenas uma coisa e devemos ter orgulho e brio nisso.
Acho importante conseguir demostrar que é possível ter mais do que uma só faceta. Todos sabemos fazer mais do que apenas uma coisa e devemos ter orgulho e brio nisso.