Quatro em cinco trabalhadores portugueses reportam sintomas de burnout e, na Europa apenas 14% dos profissionais se sente motivado no trabalho. E estes são dados extremamente preocupantes porque a ausência de bem-estar nas organizações traduz-se em perdas operacionais significativas para as mesmas. Em Portugal, cada trabalhador perde em média 15,8 dias por ano devido a problemas de saúde psicológica: 8 dias por absentismo e 7,8 dias por presentismo. Estes dados não falam apenas de saúde e bem-estar. Falam de produtividade, de retenção de talento e, acima de tudo, de sustentabilidade organizacional.
Apesar de se falar cada vez mais sobre saúde mental e well-being, a distância entre o discurso e a prática continua significativa. A consciencialização, embora necessária, não é suficiente. É fundamental que as organizações avancem da intenção para a implementação — com ações concretas, políticas consistentes e uma cultura que torne o bem-estar uma vivência tangível no dia a dia.
Investir no bem-estar das equipas é investir diretamente no desempenho da organização. É fundamental desenvolver uma estratégia de well-being alinhada com os objetivos e a cultura da empresa. Este processo começa com um diagnóstico rigoroso das necessidades dos colaboradores, seguido da definição de prioridades e da criação de um plano de ação consistente. Entre as medidas que poderão ser adotadas estão a flexibilização de horários, o incentivo a pausas regulares, a promoção do “direito a desligar”, a disponibilização de apoio psicológico ou programas de literacia emocional. A integração de práticas de escuta ativa, reconhecimento, e desenvolvimento de competências relacionais nas lideranças é igualmente determinante. Mais do que iniciativas pontuais, estas ações devem integrar um compromisso continuado e transversal.
É fácil falar de well-being em missões corporativas, eventos anuais ou campanhas internas. Mas, cultura organizacional não se define em documentos — sente-se nas relações diárias, nas decisões de gestão e na forma como as equipas são lideradas. Uma verdadeira cultura de bem-estar começa quando as estruturas da organização reconhecem que a saúde mental, emocional e física das pessoas é uma condição essencial para a sua eficácia e longevidade.
Criar esse ambiente exige decisões concretas: permitir pausas sem culpa, repensar modelos de trabalho rígidos, flexibilizar horários, promover o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e, acima de tudo, capacitar quem lidera para ouvir, apoiar e agir. É nos detalhes da rotina e nos espaços que abrimos para o outro que se constrói a confiança — e é essa confiança que sustenta a produtividade. O bem-estar não é um extra. É um sistema de suporte invisível, mas decisivo, que garante que o talento se mantém disponível, criativo e resiliente. E esse sistema começa no topo — mas só se concretiza quando desce a todos os níveis da organização.
A ligação entre bem-estar e desempenho deixou de ser uma intuição para se tornar uma evidência. O que antes era visto como “soft” é hoje um dos pilares mais sólidos de uma estratégia organizacional eficaz. Empresas que reconhecem isso não estão apenas a proteger os seus colaboradores — estão a proteger o seu negócio.
Capacitar as lideranças para criarem ambientes saudáveis, e dar às equipas ferramentas para cuidarem do seu equilíbrio emocional e físico, é hoje uma prioridade realista e urgente. Quando as pessoas têm espaço para trabalhar com saúde, trabalhar melhor torna-se consequência natural.
Por Patrícia Bispo,
Head of Learning and Development | Soft Skills, GALILEU